domingo, 12 de maio de 2013

ALEGORIA DA CAVERNA DE PLATÃO


Transcrevo aqui o texto completo referente à Alegoria da Caverna de Platão, esta é uma tradução de Enrico Corvisieri publicada na coleção “Os Pensadores”.
O diálogo é entre Sócrates e Glauco, escrito por Platão… 
PARA COMPLEMENTAR O ENTENDIMENTO APOS A LEITURA:


E) VEJA O VÍDEO DA ALEGORIA DA CAVERNA NARRADO. 

F) VEJA, LOGO ABAIXO DO TEXTO, AS IMAGENS DA História em quadrinho de PITECO E AS SOMBRAS DA VIDA de Mauricio de Souza para homenagear Platão.

                                                                       

Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco – Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates – Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica de fronte?
Glauco – Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates – E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco – É bem possível.
Sócrates – E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco – Sim, por Zeus!
Sócrates – Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.
Glauco – Assim terá de ser.
Sócrates – Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco – Muito mais verdadeiras.
Sócrates – E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco – Com toda a certeza.
Sócrates – E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco – Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates – Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal como é.
Glauco – Necessariamente.
Sócrates – Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco – É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates – Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que aí foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco – Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates – E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco – Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates – Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco – Por certo que sim.
Sócrates – E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco – Sem nenhuma dúvida.
Bibliografia
PLATÃO. A República. (trad. Enrico Corvisieri) São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Col. Os Pensadores).

HISTÓRIA EM QUADRINHO: 

PITECO E AS SOMBRAS DA VIDA




























sexta-feira, 10 de maio de 2013

PRÉ-SOCRÁTICOS



PRÉ-SOCRÁTICOS






Os Pré-Socráticos foram  os primeiros Filósofos gregos que viveram mais ou menos 600 a 500 a.C. Habitaram a Grécia antes dos sofistas (Os sofistas eram mestres que ensinavam a arte do discurso para os políticos e que tudo é relativo) e nomeadamente antes e no mesmo período de Sócrates.  Conhecem-se apenas notícias e fragmentos das suas obras, que só chegaram até nós porque foram citados ou copiados em obras de Filósofos posteriores.     Os primeiros filósofos gregos dedicaram-se ao problema de determinar qual era o princípio material, chamada Physis, que ordenava e regia a natureza e todo universo, para vereficar se a natureza possuia uma ordem ou era um caos, numa explicação racional (cosmológica) desprendida do mito (cosmogônica). Foram chamados de naturalistas, pois procuravam responder a questões do tipo: O que é a natureza ou qual o  fundamento último das coisas?  Foram considerados como pessoas desprendidas das preocupações materiais do dia a dia e  que se dedicavam apaixonadamente à contemplação da natureza. Tinham então como principal objetivo viverem para contemplarem a natureza. Pode considera-los como os primeiros Físicos, pois várias de suas descobertas são valiosas até hoje para a física.


BREVE RESUMO DOS PRÉ-SOCRÁTICOS:

 Tales de Mileto  O primeiro Filósogo grego que viveu por volta do ano 600 a.C. Tales defendia que a água era o princípio, a origem que regia todas as coisas. Preocupavam-se em encontrar a unidade por detrás da multiplicidade dos objectos do universo, e o princípio de explicação da natureza a partir da própria natureza. 
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Anaximandro – (+ ou – 610-547 a. C) é um filósofo da escola jônica, natural de    Mileto e discípulo de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político.   Escreveu um livro, Sobre a natureza, que se perdeu. É considerado autor de  um mapa do mundo habitado e iniciador da astronomia. Afirmou que a origem de todas as coisas seria o apeíron, o infinito. O mundo se dissolveria nele    também. É apenas um mundo dentre muitos. Ao contrário de Tales não deu à  gênese um caráter material. O apeíron é eterno e indivisível, infinita e indestrutível. O princípio é o fundamento da geração de todas as coisas, a ordem do mundo evoluiu do caos em virtude deste princípio. Teve como  discípulo Anaxímenes.
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Anaxímenes – (+ ou – 588-524 a.C.) Refutando a teoria da água de Tales, e do ápeiron de Anaximandro, Anaxímenes ensinava que a substância primordial era o ar infinito, pneuma ápeiron. O universo resultaria das transformações do ar, o fogo, o vento, a nuvem, a água e a terra e por último pedra. O ar tinha o eterno  elemento. Dedicou-se à  meteorologia foi o primeiro a considerar que a lua recebe a luz do  sol. Era companheiro e discípulo de Anaximandro. Hegel diz que Anaxímenes ensina que nossa alma é ar, e ele nos mantém  unidos, assim um espírito e o ar mantém unido o mundo inteiro. Espírito e ar são a mesma coisa. Para ele a Terra a Lua e o Sol bem como todos os demais astros conhecidos na época, são planos e flutuam como se estivessem cavalgando sobre o ar. Todos os astros se movem ao redor da terra como se fosse um chapéu girando ao redor da nossa cabeça. A terra é feita de ar comprimido e o sol a lua e os outros astros também se originam da terra..  Anaxímenes identificou o ar talvez porque tenha visto seu movimento  incessante, e que a vida e o ar andam juntos, na maioria dos casos. A respiração é um processo vivificante, dependemos dela durante toda a nossa vida. Ele via     que no céu existem nuvens, e que a matéria possui diferentes graus de solidez. 
       Outra frase que consta nos fragmentos é "O sol largo como uma folha e se desloca através do ar".
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Pitágoras – (século VI a.C.) Nasceu em Samos, em uma época em que na Grécia estava instituído o culto ao deus Dionisio. Os órficos (de Orfeu) acreditavam na imortalidade da alma e em reencarnação (metempsicose), e para se livrar desse ciclo, necessitavam da ajuda de Dionisio deus libertador. Pitágoras postulou como via de salvação em vez desse deus, a matemática. Acreditava na divindade do número. O um é o ponto, o dois determina a linha, o três gera a superfície e o quatro produz o volume. Os pitagóricos concebem todo o universo como um campo em que se contrapõe o mesmo e o outro. É de Pitágoras o teorema do triângulo retângulo. Fundou uma seita, em que a salvação dependia de um esforço humano subjetivo, e que tinha iniciação secreta. Os números constituem a essência de todas as coisas segundo sua doutrina, e são a verdade eterna. O número perfeito é o dez, por causa do triângulo místico. Os astros são harmônicos. Foi Pitágoras que inventou a palavra filosofia – (amizade ao saber).
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 Xenófanes de Colofão -(século IV a. C) atribui-se a ele a fundação da escola de Eléia. Em seus fragmentos defendeu um deus único, supremo, que não tinha a forma de homem. Realçou isso afirmando que os homens atribuem aos deuses características semelhantes a eles mesmos, que mudam de acordo com o povo. Se os animais tivessem mãos para realizarem obras, colocariam nos deuses suas características. Restaram de suas obras alguns fragmentos, sendo que uns satíricos. Foi contra a grande influência de Hesíodo e Homero (historiador e escritor gregos). Zombou dos atletas, preferindo a sua sabedoria aos feitos atléticos, que não enchiam celeiros. O deus segundo Xenófanes está implantado em todas as coisas, o todo é um, e é supra-sensível, imutável, sem começo, meio ou fim. Teve como discípulo  Parmênides.
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Parménides, foi o fundador da escola eleática. Defendia a imutabilidade e unicidade do ser, afirmando que a multiplicidade e a mudança eram apenas aparências. Zenão, que foi seu discípulo, viria a defender as teses de Parménides sobre a imutabilidade do real. Parménides dizia que o Ser é completo de todos os lados, semelhante a uma esfera bem redonda.   
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   Heraclito acreditava na filosofia do devir, falava de um devir não puramente linear que seria a negação absoluta do ser, mas sim do devir que se desenrolava no interior de um círculo. Considerava haver um ciclo do devir que em tudo representava harmonia, com efeito na circunferência, o começo e o fim coincidem.  Acreditava que era no interior de cada um de nós que se operavam as mudanças, dizia que a vida e  a morte, a juventude, a velhice e o sono eram a mesma coisa, porque estes transformam-se naquelas e inversamente aquelas transformam-se nestes. Era um defensor da mudança dizia que não se podia penetrar duas vezes no mesmo rio. Para Heraclito, o mundo era  o mesmo para todos os seres, nenhum deus, nenhum homem o criou; mas foi, é, e será sempre um fogo eternamente vivo, que com medida se acende e com medida se apaga. ...........................................................................................................................................
    Anaxágoras foi o primeiro filósofo registrado pela história a ter afirmado a existência de um princípio inteligente como causa da ordem do mundo. Para ele o espírito é que ordenava tudo e daí tudo era causa.
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   Empédocles, foi o criador da teoria dos quatro elementos que vigoraria até a era moderna: terra, água, ar e fogo, seriam os componentes últimos das coisas, ora reunidos sob a atracção do amor, ora separados pela força da discórdia (ou do ódio).
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Leucipo (século V a. C) Filósofo grego, criador da teoria atomista, que foi desenvolvida por Demócrito. É considerado discípulo de Zenão. Leucipo explicou o fenômeno do peso de acordo com o tamanho dos átomos e suas combinações. Os átomos seriam partículas minúsculas e indivisíveis por sua pequenez. O mundo teria a parte cheia e a parte vazia. Foi o primeiro a conceber uma parte vazia no universo. A parte cheia seria constituída de átomos.
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Melisso – floresceu em cerca de 444/41 a.C. Nasceu em Samos, ilha do mar Egeu, e era filósofo e político, tendo derrotado os atenienses com uma esquadra que comandou. Defensor de Parmênides, atacou Empédocles. Escreveu um poema, Sobre o ser. Disse que o todo é imóvel, pois se movesse haveria vazio e o vazio é um não ser. Para ele tudo sempre existiu, e sempre existirá. O mundo é infinito.
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Demócrito (+ ou - 460-370 a. C) – nasceu em Abdera (Trácia). Foi discípulo e sucessor de Leucipo, desenvolveu suas teoria atomista. É um dos primeiros materialistas. Teria deixado cerca de noventa obras. Para resolver o impasse surgido nas teorias de Heráclito e Parmênides, desenvolve a teoria de que tudo seria composto por partículas minúsculas indivisíveis e invisíveis a olho nu, inclusive a alma. Os átomos da alma se desintegrariam no momento da morte. Portanto, não acredita na imortalidade da alma, embora gostasse de Pitágoras. Como nada pode surgir do nada, os átomos, são eternos. O movimento existe, pois o pensamento é movimento, e também os átomos se movem. O homem é infeliz porque não conhece a natureza. Temos de nos contentar com o mundo tal como ele é. Os átomos constituem a explicação última da natureza. Foi o mais lógico dos pré-socráticos. Nietzsche o considera um poeta, Aristóteles admira sua     universalidade. Sua doutrina seguiu adiante, e temos outros atomistas, como Epicuro. 

REFERÊNCIAS

PRÉ-SOCRÁTICOS EM QUADRINHO