Transcrevo aqui o texto completo
referente à Alegoria da Caverna de Platão, esta é uma tradução de Enrico Corvisieri
publicada na coleção “Os Pensadores”.
O diálogo é entre Sócrates e Glauco, escrito por Platão…
PARA COMPLEMENTAR O ENTENDIMENTO APOS A LEITURA:
F) VEJA, LOGO ABAIXO DO TEXTO, AS IMAGENS DA História em quadrinho de PITECO E AS SOMBRAS DA VIDA de Mauricio de Souza para homenagear Platão.
Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora,
ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie,
que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda
espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e
outros seguem em silêncio.
Glauco – Um quadro
estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates – Assemelham-se a
nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez
visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais do que as sombras projetadas
pelo fogo na parede da caverna que lhes fica de fronte?
Glauco – Como, se são
obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates – E com as coisas
que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Portanto, se
pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos
reais as sombras que veriam?
Glauco – É bem possível.
Sócrates – E se a parede do
fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores falasse, não
julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco – Sim, por Zeus!
Sócrates – Dessa forma,
tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados.
Glauco – Assim terá de
ser.
Sócrates – Considera agora
o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e
curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele
obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a
erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o
deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as
sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até
então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para
objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das
coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas
que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais
verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?
Glauco – Muito mais
verdadeiras.
Sócrates – E se o forçarem
a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista
para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente
mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco – Com toda a
certeza.
Sócrates – E se o
arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e
escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não
sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado
à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das
coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco – Não o
conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates – Terá, creio eu,
necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por
distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos
outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos.
Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar
mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que,
durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco – Sem dúvida.
Sócrates – Por fim, suponho
eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra
coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar
tal como é.
Glauco – Necessariamente.
Sócrates – Depois disso,
poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos,
que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o
que ele via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco – É evidente que
chegará a essa conclusão.
Sócrates – Ora, lembrando-se
da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que aí foram
seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e
lamentará os que lá ficaram?
Glauco – Sim, com
certeza, Sócrates.
Sócrates – E se então
distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se
apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se
recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem
juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que
provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e
poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um
simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer tudo no
mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco – Sou da tua
opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates – Imagina ainda
que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não ficará
com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco – Por certo que
sim.
Sócrates – E se tiver de
entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas
correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes
que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um
tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que,
tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar
subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém
não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco – Sem nenhuma
dúvida.
Bibliografia
jubileu primo do pica pau
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